Gás, a noiva da vez

July 08, 2013 | Categoria: Energy

As reservas mundiais de gás crescem em ritmo do dobro das descobertas de óleo

Paulo Ludmer, consultor, Artigos e Entrevistas 
08/07/2013 - 10:22h

A extraordinária progressão ascendente do mercado mundial de gás natural se dissemina sobre todos os vasos comunicantes do universo energético, tecnológico e comportamental. O movimento está conectado ao gás de xisto e areias betuminosas dos Estados Unidos à Argentina, da Austrália ao Canadá e outros eixos geográficos. O Brasil, com ricas jazidas, está catatônico.

Apenas para ilustrar, até o diminuto Estado de Israel descobriu gás de rochas betuminosas no subsolo de Jerusalém à Cisjordânia, arredondando sua virada econômica de importador para exportador de energia. Observe-se que, no Mediterrâneo, entre Haifa e Chipre vários campos petrolíferos já estão em produção pelos israelenses, nesta mesma partitura. Breve exportarão óleo e gás do mar.

Negacionistas e ecocéticos nos Estados Unidos, Canadá e Rússia, entre muitos, defendem a extensão da era da combustão de hidrocarbonetos e seus motores como nós os conhecemos. E traçam um plano B para o resfriamento do mundo.

Argumentam que a Terra ruma a um resfriamento glacial; que o nível do mar já esteve 130 metros mais elevado; que os níveis de gás carbônico são os mais baixos em centenas de milhares de anos; e, que a vida no planeta vai melhor a temperaturas mais altas do que a média de 16 graus Celsius em que hoje estamos.

Por isso não comungam com Kioto ou taxações de carbonáceos. Por isso, chamam sustentabilidade e aquecimento global de fraude, pela falta de evidências científicas definitivas (o que se conhece são modelagens, com as vulnerabilidades de modelagens).

Seja lá o que for, que o gelo flutuante ao derreter não eleva o nível do mar, que os furacões e enchentes são normalidades nas eternas mudanças climáticas, importa que os negócios (energias renováveis, seqüestros de carbono, etc) são promovidos por marqueteiros e interesses específicos. A Alemanha, por exemplo, despeja solar no Brasil; enquanto a India e a China vendem pás e torres eólicas por aqui.

Essencial é que o barril do petróleo tende a se nivelar ao redor dos US$ 70 por conta da valorização do dólar e do shale gas à vontade nos países que ambientalmente reúnem coragem para sua extração (que ameaça lençóis freáticos). Na Comunidade Européia isso não se verifica.

Relevante é que o Pré-Sal se sustenta aos US$ 70/ barril, embora as renováveis venham a demandar mais subsídios e incentivos dos tesouros em toda parte. A insistência e a queda relativa dos preços dos energéticos pode derreter equilíbrios fiscais perdidos no primeiro mundo.

Sobre uma conseqüência importante, vide o “Energy 2020: trucks, trains & automobiles”, do Citi GPS. As economias vão se mover a gás. E, antes de atirar pedras neste articulista pelo vaticínio poluidor, registro que passei os últimos quarenta anos rezando e torcendo pela substituição tecnológica desta pérfida combustão que seguirá nossos netos. Mas estou velho para brigar com a realidade.

As reservas mundiais de gás crescem em ritmo do dobro das descobertas de óleo. O novo gás quebra as relações de preços com o velho gás de poços petrolíferos e compete derrubando paradigmas. O shale gas terrestre bole com os conceitos tradicionais da economicidade de refino, transporte e logística antigos.

As tecnologias correlatas para aproveitamento econômico do gás, sejam em transporte ou em máquinas, ganham enorme fôlego. Mas, é ingênuo pensar que a demanda de óleo cru diminua até 2030, prevê o Citi GPS.

A corrida tecnológica para o carvão combustível, nuclear, biomassa e renováveis está diante de um fato novo. O gás voltou ao podium.