Mar de prédios inacabados ilustra período de gastança

July 18, 2013 | Categoria: Engineering

Por Bloomberg

Cartazes do ideograma chinês boa sorte enfeitam lojas trancadas com ferrolhos na cidade de Ordos, no norte da China, onde guindastes se erguem, silenciosos, sobre construções semiacabadas e as portas dos abrigos de trabalhadores rangem ao vento.

As vendas de apartamentos virtualmente pararam no bairro central, diz o corretor imobiliário Zhang Wei. Com a queda da arrecadação da prefeitura, a cidade, situada na Mongólia Interior, que assistiu a uma escalada da construção civil durante o surto de crescimento recorde de crédito na China, é atualmente um símbolo do financiamento especulativo que o premiê, Li Keqiang, tenta coibir.

"Nos últimos anos, havia muito carvão, por isso vinha gente de todo o país", diz Gao Wei, de 30 anos, enquanto fuma no escritório que negocia maquinário de construção de segunda mão, onde nenhum cliente aparecera naquele dia. "Agora a economia veio abaixo e todo mundo foi embora."

A implosão de Ordos é um caso extremo da desaceleração da economia nacional, que, segundo um relatório do governo chinês divulgado segunda-feira, pode se aprofundar neste trimestre. De acordo com o documento, o aumento registrado pela produção industrial do país no mês passado se equiparou ao menor já alcançado desde a recessão mundial de 2009. O desafio para o governo de Li é garantir um crescimento suficientemente resistente para que a economia chinesa, a segunda maior do mundo, faça frente às crises das finanças locais e ao excesso de capacidade que assola a indústria.

"O que tem de puxar o crescimento agora é o aumento da produtividade e a maior eficiência dos investimentos, com um sistema financeiro que canalize dinheiro para as empresas mais eficientes", disse David Loevinger, ex-coordenador-sênior para assuntos chineses do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e atual analista de mercados emergentes do TCW Group de Los Angeles.

O crescimento da China desacelerou pelo segundo trimestre consecutivo, para 7,5% no período abril-junho, segundo revelou o relatório do Departamento Nacional de Estatística chinês. A produção industrial aumentou 8,9% em junho, se comparada ao mesmo mês de 2012. A expansão corresponde ao nível mais baixo já obtido desde 2009, excetuando-se os meses de janeiro e fevereiro, quando o Ano-Novo chinês distorce os dados.

O relatório intensificou especulações de que o governo tomará medidas para defender sua meta de crescimento de 7,5% para 2013. A Nomura Holdings prevê que a China vai baixar a alíquota do depósito compulsório dos bancos por quatro vezes, num total de 2 pontos percentuais, até junho de 2014. O Bank of America disse que as autoridades chinesas vão "lançar algumas políticas fiscais expansionistas em escala limitada".

O governo já começou a fazer a sintonia fina das políticas e a apoiar o crescimento, observou o HSBC Holdings em nota na terça-feira. Os anúncios do Conselho de Estado neste mês, estimulando os investimentos em habitação pública, economia de energia, proteção ambiental e infraestrutura tecnológica, ajudarão a fazer frente à desaceleração, disse o HSBC.

A Nomura reduziu, também na terça, sua estimativa de crescimento para o ano que vem para 6,9%, em relação aos 7,5% anteriores, enquanto o JPMorgan Chase baixou sua projeção para 7,2%.

Outros riscos ao crescimento vêm da desaceleração da expansão do consumo e da renda. O consumo contribuiu com 45,2% do aumento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre, após responder por 55,5% no primeiro trimestre, segundo o departamento. A renda disponível per capita das famílias das áreas urbanas aumentou 6,5% no primeiro semestre, em termos reais, comparativamente à expansão de 9,7% computada no primeiro semestre de 2012, segundo dados do governo.

"Estamos passando pelas dores temporárias da reestruturação", disse na terça-feira Sheng Laiyun, porta-voz do departamento de estatística, em Pequim.

Nove capitais provinciais tiveram dívidas no ano passado equivalentes a mais de 100% de um indicador de arrecadação anual, e algumas cidades enfrentavam mais dificuldades em quitar dívidas devido à desaceleração da arrecadação gerada pelas vendas de terrenos, informou o Departamento Nacional de Auditoria em relatório divulgado no mês passado.

O jornal "Apple Daily", de Hong Kong, informou que a cidadezinha de Huaxi, na região oriental da China, tida como a mais rica do país, corre o risco de falir, com o esvaziamento da maioria de suas fábricas. Sun Haiyan, vice-secretário do Partido Comunista em Huaxi, disse em entrevista por telefone que o relatório não tem fundamento e que os esforços da cidade para reestruturar sua economia estão alcançando bons resultados.

Estimulada pelo surto de crescimento da produção de carvão, Ordos passou por uma explosão da construção civil nos últimos anos, quando expandiu seu aeroporto, construiu um estádio esportivo e a nova área de Kangbashi, onde prédios de apartamentos altos contornam um lago artificial. Muitos habitantes locais possuíam dois ou três imóveis, disse o corretor de imóveis Bai Pusheng.

Agora a receita do governo local está caindo porque o colapso imobiliário acabou com as vendas de terrenos, enquanto os moradores não veem mais vantagens em comprar imóveis e tomar empréstimos, segundo o corretor Zhang. Cerca de 70% do mercado imobiliário do bairro de Dongsheng foi custeado pelo crédito privado que agora parou de fluir, disse ele.

A arrecadação fiscal de Ordos, entre janeiro e maio, caiu 15,8% no comparativo ano a ano, segundo dados estatísticos oficiais. Quando o governo vendia terrenos, nos últimos anos, sempre usava os recursos para obras de infraestrutura, disse Zhang, no escritório de vendas de um novo complexo de apartamentos de mil unidades. "Agora ele não tem dinheiro."

Por outro lado, a corrida do carvão por que passou a cidade estancou em meio à fragilidade da demanda interna, que fez os preços caírem para seu patamar mais baixo de quase quatro anos.

A situação não suspendeu os esforços pela continuidade do surto de crescimento. As autoridades planejam construções para os habitantes da cidade entremeadas por espaços verdes a cada 300 metros e por um parque a cada 500 metros, segundo Guo Xiaojun, alto funcionário do setor de divulgação do governo de Dongsheng.

Projetos desse gênero podem ficar mais difíceis de financiar. Algumas subprefeituras de Ordos tiveram de tomar empréstimos junto a empresas para pagar os salários dos funcionários municipais, de acordo com o semanário "Economy & Nation Weekly", publicado pela agência oficial Xinhua, em reportagem divulgada no dia 5 em seu site. O governo de Dongsheng não respondeu a pedido de entrevista, encaminhado por meio de Guo, sobre a matéria da revista.

Boa parte da tomada de empréstimos por Ordos ocorreu por intermédio de veículos de financiamento do governo municipal, empresas de propósito específico montadas por autoridades por toda a China para financiar a construção de obras de infraestrutura. As entidades acumulavam uma dívida de 10,7 trilhões de yuans (US$ 1,7 trilhão) no fim de 2010, segundo estimativa do Departamento Nacional de Auditoria.

Embora o banco estatal de fomento China Development Bank "apoie firmemente" os projetos do veículo do governo municipal Erdos Dongsheng City Construction Development & Investment Group Co., outros bancos adotaram regras mais restritivas e não emprestam para projetos de obras de infraestrutura como estradas e parques, disse Dai Haishu, chefe da controladoria financeira e contador-sênior da empresa.

"Nossos projetos não devem envolver nenhum risco", disse ele de sua sala, com vista para blocos inacabados de apartamentos de concreto. "A economia teve um impacto, mas não temos de quitar imediatamente tudo o que devemos."

Um prospecto de venda de bônus de fevereiro de 2012, feito para investidores na Erdos Dongsheng, previa "crescimento acelerado" para o bairro e aumento rápido da arrecadação municipal. A empresa continua a tomar empréstimos, e o crédito concedido pelo Banco do Povo da China tem vencimentos de até dez anos, disse Dai.

"Ordos é uma advertência a outros lugares em termos de como dirigir a economia local e do que não se deve fazer", disse Yao Wei, economista do Société Générale para a China em Hong Kong. "Os governos locais ainda não estão despertando para o que deveriam fazer neste