Dúvidas sobre qualidade desaceleraram mercado de carbono em 2022

January 25, 2023 | Categoria: Energy

Dúvidas sobre qualidade de projetos e seus reais impactos climáticos levaram o comércio de créditos de carbono voluntários a uma queda de 4% no ano passado – comparado a 2021 –, com as empresas adquirindo 155 milhões de compensações, mostra levantamento da BloombergNEF.

A oferta destes créditos cresceu pouco: apenas 2%, com 255 milhões de compensações criadas por projetos em todo o mundo.

Houve queda também na emissão de títulos por desmatamento evitado, que diminuiu em um terço na comparação anual.

De acordo com a análise, as empresas estão preocupadas com a reputação, após recorrentes denúncias de greenwashing por comprarem compensações de projetos de impacto ambiental questionável.

"O mercado de compensações de hoje, criado principalmente a partir de transações bilaterais de créditos baratos, está potencialmente cavando sua própria cova", comenta Kyle Harrison, chefe de pesquisa de sustentabilidade da BNEF, e o principal autor do relatório.

Crítico em relação às normas atuais, ele observa que os compradores precisam de transparência, definições claras em torno da qualidade e fácil acesso ao que ele chama de fornecimento premium (créditos de maior qualidade) – ou os próximos anos serão parecidos com 2022.

“Essas mudanças gerarão sinais de demanda para os projetos de maior impacto de descarbonização e com maior necessidade de investimento", explica.

Com definições mais rigorosas de qualidade e maior ênfase na remoção de carbono, o mercado voluntário pode chegar a US$ 1 trilhão logo em 2037.

O relatório defende legislações mais rígidas justamente para aumentar a confiança do mercado, ao mesmo tempo em que valoriza os preços e impulsiona a demanda.

Qual o papel do mercado voluntário de carbono? A urgência de reduzir emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento do planeta a 1,5º até o fim do século colocou a compensação voluntária entre as estratégias de setores de difícil descarbonização, pela flexibilidade e até mesmo pelo custo.

Para funcionar – e não cair no greenwashing –, no entanto, ela precisa de credibilidade e transparência.

Uma peça-chave é o preço. É preciso ter uma remuneração que faça a árvore em pé valer mais a pena do que derrubada para o dono da terra, e esse valor precisa ser aceito pelo mercado.

Em 2021, o Banco Mundial alertou que menos de 4% das emissões globais são cobertas por um preço de carbono acima de US$ 40. Esse preço precisaria estar entre US$ 40 e US$ 80 por tonelada de CO2 (tCO2) e chegar a níveis entre US$ 100 e US$ 200/tCO2 em 2030, para atender ao Acordo de Paris.

Além disso, as compensações devem ser encaradas como complementares, para abater apenas aquilo que não foi possível reduzir com melhorias em eficiência e substituição de fósseis por renováveis, por exemplo.

A definição de compensação de alta qualidade é outra polêmica, por englobar fatores difíceis de quantificar, como permanência, adicionalidade e benefícios além da descarbonização.

Bolsas, produtos futuros, fornecedores de tecnologia e iniciativas privadas como o Integrity Council for the Voluntary Carbon Markets estão criando padrões e simplificando as compras.

O que pode tanto aumentar a liquidez quanto gerar mais confusão no mercado, avalia Harrison.

"Criar normas padronizadas é o mais importante. Resolver essas questões pode aumentar o mercado em várias ordens de magnitude, mas há o risco de muitos desses esforços concorrentes acontecerem ao mesmo tempo, semelhante ao que vimos em áreas adjacentes, como em relatórios ESG e finanças sustentáveis".

Dois mercados. O estudo da BNEF faz uma simulação considerando que este debate divide o mercado em dois: um de alta e outro de baixa qualidade.

O primeiro inclui remoção baseada em tecnologia e soluções baseadas na natureza (NBS, em inglês) na África, América do Norte e Oceania. A demanda atingiria apenas 433 milhões em 2030 e 1,3 bilhão em 2050, ante ofertas de 1,4 e 3,2 bilhões nos mesmos anos.

Os preços alcançam a máxima de US$ 38/tonelada em 2039 antes de cair para US$ 32/ton em 2050.

 Já o mercado de compensações de baixa qualidade inclui geração de energia e NBS na Ásia e América Latina. Devido à maior demanda, os preços são mais altos inicialmente, de US$ 12/tonelada em 2025, mas só chegarão a US$ 22/tonelada em 2050.

Editada por Nayara Machado da Agência EPBR