Como os eletrocombustíveis estão ganhando território

March 03, 2023 | Categoria: Energy

Editada por Nayara Machado - epbr.com.br 

A empresa dinamarquesa de energia Ørsted está construindo no nordeste da Suécia a maior instalação da Europa para a produção comercial de combustíveis marítimos neutros em carbono – e a planta pode ser “copiada e colada” em outras partes do mundo.  Batizada de FlagshipONE, o projeto possui quatro eletrolisadores de membrana de troca de prótons (PEM) com capacidade total de 70 megawatts para produção de hidrogênio verde.

A partir de 2025, a usina será capaz de produzir até 50 mil toneladas de e-metanol por ano, a partir da síntese de hidrogênio verde com dióxido de carbono capturado da queima de biomassa. Ao substituir o combustível convencional, feito de petróleo, o e-metanol poderá evitar o equivalente a 100 mil toneladas de emissões de CO2 por ano.

Localizada na cidade costeira de Örnsköldsvik, a FlagshipONE usa tecnologias da Siemens Energy e foi desenvolvida pela empresa sueca Liquid Wind de modo que possa ser dimensionada e replicada em diversos locais.

O plano da Liquid Wind é desenvolver outras dez instalações de eletrocombustíveis – também conhecidos como combustíveis sintéticos – na Escandinávia até 2030. A FlagshipTWO já está em desenvolvimento e será capaz de fornecer 100 mil toneladas de e-metanol usando um eletrolisador de 140 MW.

“Sem hidrogênio ou combustíveis alternativos não haverá transição energética. Precisamos acelerar essas novas indústrias o mais rápido possível, o que, por sua vez, requer modelos de negócios economicamente viáveis e investimento privado”, defende Anne-Laure de Chammard, membro do Conselho Executivo para Transformação da Indústria da Siemens Energy.

O empreendimento da Ørsted marca o início da produção comercial de e-metanol na Europa no modelo de usina modular. O objetivo é ganhar escala e reduzir custos.

Os eletrocombustíveis ainda não estão disponíveis em volumes suficientes para a indústria e seu custo de produção é maior do que o dos fósseis, cuja indústria é secular.

Mercado é promissor. A Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês) calcula que, até meados do século, a descarbonização do frete marítimo demandará 50 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano para o fornecimento de amônia e metanol.

Hoje, o transporte marítimo contribui com 3% das emissões totais de gases de efeito estufa (GEE), sendo responsável por 90% do volume do comércio mundial. Por ser dependente de combustíveis fósseis, as indústrias marítimas fazem parte de um dos setores mais difíceis de alcançar as metas de descarbonização.

Algumas companhias já começaram a investir nos combustíveis renováveis marítimos. A transportadora dinamarquesa Maersk, por exemplo, tem acordos com a Ørsted, SunGas Renewables e outras sete empresas para compra de metanol verde.

Como será a produção? A FlagshipONE utiliza eletricidade de fonte renovável para produzir hidrogênio verde por meio dos eletrolisadores. Em seguida vem o processo de síntese, onde o CO2 é acrescentado a partir do calor e da energia gerados em uma usina de biomassa próxima da planta. O resultado é o e-metanol, um combustível sintético neutro em CO2, mais fácil de armazenar e transportar do que o hidrogênio. Ele será usado em motores de navios flex (que podem usar combustíveis líquidos ou gás), sozinho ou na mistura com o fóssil.