Esgotamento de potencial hidrelétrico traz de volta a discussão sobre nuclear no planejamento, dizem especialistas

August 21, 2013 | Categoria: Energy

Sueli Montenegro, da Agência CanalEnergia, de Brasília, Planejamento e Expansão 

O possível esgotamento do potencial hidrelétrico brasileiro a partir de 2020 foi o principal argumento usado pelo assistente da presidência da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, e pelo professor Otavio Mielnik, da Fundação Getúlio Vargas, em defesa da reinclusão dos projetos nucleares no planejamento de expansão de longo prazo. Guimarães e Mielnik participaram nesta quarta-feira, 21 de agosto, de discussão sobre matriz energética e energia nuclear, promovido pelo Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados.

O representante da Eletronuclear advertiu que a partir de 2023 o acordo de Itaipu poderá ser revisto, o que vai deixar o país à mercê da ação politica do Paraguai, parceiro na construção da usina binacional. "O Brasil deve entrar em acordo, mas é lógico que o Paraguai vai tentar maximizar o uso dessa energia. Isso próximo à data em que o potencial hidreletrico vai estar se esgotando", afirmou Guimarães. Nesse contexto, observou o assessor, a energia nuclear tem que ser discutida sem preconceito, embora não seja a única solução para todas as necessidades da matriz.

Com potência instalada de 14 mil MW, Itaipu representa atualmente 18% da geração do Sistema Interligado Nacional. Pelos termos do acordo firmado para a construção da usina, o país vizinho é dono de 50% de energia produzida pela hidrelética, mas é obrigado a vender ao Brasil toda a energia que não for usada para abastecimento interno, o que representa atualmente pouco mais de 40% da cota paraguaia.   

Guimarães lembrou que em 2007 estudo já apontava a necessidade de instalação de 4 mil MW de energia nuclear em 2020, com a construção de usinas nas regiões nordeste e sudeste. Esse levantamento deveria ser atualizado em 2012, mas a possibilidade de construção de novas plantas nucleares, que havia sido aparentemente descartada após as discussões que envolveram o acidente de Fukushima, no Japão, passou a ser novamente considerada. A fonte deve entrar no Plano Nacional de Energia para  2050, que vai ser lançado em 2014. 

Estudo feito para o governo pela Fundação Getúlio Vargas sobre o futuro energético e a geração nuclear defende o uso da fonte como energia de base, mas destaca a necessidade diversificação da matriz elétrica brasileira para minimizar a dependência fisica de determinadas fontes e o impacto ambiental. Autor do estudo lançado em julho desse ano, Otavio Mielnik destacou que a geração elétrica apresenta sinais de saturação no Brasil e o sistema passa por uma transição energética, econômica e regulatória. 

Uma das premissas hoje, segundo o coordenador de projetos da FGV, é a exigência de sustentabilidade física, tecnológica, econômica e financeira do suprimento de energia elétrica. Mielnik disse que a fronteira de expansão hidrelétrica está localizada em áreas ambientalmente sensíveis da região amazônica e do cerrado, próxima de territórios indigenas e com restrições energéticas, econômicas e ambientais.

Para o professor da FGV, o gás natural é uma possibilidade, pelo elevado volume de reservas, mas seu uso ainda vai depender do preço. Da mesma forma, o carvão poderá ser um mercado relevante até 2040. Há ainda  a biomassa, eólica e termicas a diesel e a óleo combustivel, cada uma delas com algum tipo de restrição operacional ou ambiental.

A energia nuclear  pode ser uma alternativa de segurança, em sua opinião, pelas reservas de urânio existentes no país. Além do mais, lembrou, uma nova geração de reatores incorpora vantagens operacionais e de segurança que devem ser consideradas para sua inserção na matriz nos próximos anos. Mielnik disse que esse tipo de usina tem fator de capacidadeque permite a geração em 90% do tempo.

Otimista, ele observou que o custo de  construção das usinas nucleares tende a  se tornar competitivo, em razão da  evolução tecnológica e da multiplicação dos projetos em execução. "Algo como 35% do custo poderá ser amortizado à medida em que se for construindo um número maior de usinas, com métodos inovadores de padronização. Outra coisa é que o tempo de construção vai ser menor - de 48 meses- quando hoje é em média de 66 meses, o que deve reduzir o custo", afirmou. 

Para Leonam Guimarães, um ponto crucial da discussão é a aceitação publica à geração elétrica nuclear. "As comunidades que estão mais próximas da usina têm um nível de aceitação maior que as que estão distantes. O medo  vem da percepção do risco", observou.