Leilão A-3 será dominado por eólicas e solar ficará para outro momento, avaliam agentes

October 18, 2013 | Categoria: Energy

Alexandre Canazio e Mauricio Godoi, da Agência CanalEnergia, Planejamento e Expansão 

A grande expectativa em torno da estreia da energia solar em seus primeiros leilões no país foi frustrada pela divulgação nesta quinta-feira, 17 de outubro, do preço-teto de R$ 126 por MWh para os produtos disponibilidade e quantidade do leilão A-3, marcado para 18 de novembro. Com 3 GW cadastrados, a fonte é uma das últimas grandes entre as complementares a tentar se consolidar no país. Mas, o preço pode adiar a primeira vitória em certames para o A-5, de 13 dezembro, desde que as condições sejam alteradas.

Sai na frente para contratação a energia eólica, que teve uma elevação no preço em relação ao leilão de energia de reserva, de agosto, que começou em R$ 117/MWh. Já biomassa, PCHs e térmicas a gás natural tiveram redução de preço em relação ao A-5, também de agosto, que iniciou em R$ 140/MWh. Por isso, os entrevistados pela Agência CanalEnergiaacreditam que será um novo leilão dominado pelas eólicas.

Para Thaís Pradini, diretora-executiva da Thymos Energia, o preço-teto veio bem abaixo do esperado pelo mercado. "Ele está muito próximo de descartar algumas fontes", avaliou a consultora. Para ela, preços abaixo de R$ 135/MWh dificultam a viabilização das usinas a biomassa. "Vemos que o planejador focou muito na modicidade tarifária. E ele sabe que a eólica é bastante competitiva", frisou. Para ela, não haverá uma contratação muito grande neste certame; o volume maior virá no A-5, de dezembro, com as grandes hidrelétricas e as térmicas a carvão, já que há restrição no fornecimento de gás natural.

Para Élbia Melo, presidente da ABEEólica, a elevação do preço-teto para a fonte em comparação com o LER deste ano reflete a diferença entre as condições de contratação e a elevação dos custos. De acordo com a ela, os R$ 126/MWh é a precificação das mudanças nas condições impostas pelo governo, como a transferência do risco da transmissão aos empreendedores, a elevação do P50 para o P90. Além disso, lembrou Élbia, em comparação com o A-5 do ano passado, tem uma atualização dos valores com o IPCA, a desvalorização do real ante o dólar, as novas regras do BNDES para o financiamento de equipamentos.

"Não comento sobre o resultado esperado para o leilão, mas podemos citar que no LER deste ano tivemos muitos empreendimentos sendo negociados próximos ao preço-teto de R$ 117 por MWh, o que significa que os custos estão em um patamar superior", afirmou a executiva. "Percebemos que há uma sinalização de curva crescente do preço da eólica e esse fato não vem por acaso, reflete o aumento do custo de produção que vem mudando ao longo do tempo em função das condições macroeconômicas e com as mudanças das regras", apontou.

Eduardo Serra, presidente da Solyes, considerou, em uma avaliaçaõ inicial, que o preço é incompatível com a fonte solar fotovoltaica. Ele também considera que a eólica deve dominar o certame. Para ele, a energia solar deveria ter um produto segregado e com preço mais elevado para ser viabilizada. "Entendo a evolução que há em relação a energia solar. Há um consenso que é preciso considerar a inserção da fotovoltaica na matriz. Mas temos uma diferença entre pessoas que acham que isso é para agora e outras para mais para frente", observou.

O executivo, que faz parte de uma frente solar, que quer a inserção da fonte em um leilão com preço e produto diferenciado, para estimular o desenvolvimento de uma indústria no país, acredita que não estão sendo considerados esses pontos e as externalidades da fonte. Ele lembrou que as usinas solares são mais atuantes, por isso, correlacionadas nos períodos de maior risco hidrológico. Por isso, Serra espera que as condições sejam alteradas no A-5, que tem edital em audiência pública. "No leilão A-5, a fonte é a única que concorre diretamente com a eólica", apontou. 

Já, na avaliação da União da Indústria da Cana de Açúcar, o preço teto único para todas as fontes retira a competitividade das usinas a biomassa. De acordo com Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da entidade, nem mesmo o patamar apresentado no LEN A-5 realizado este ano e que ficou em R$ 140 por MWh foi suficiente para promover a competitividade entre as fontes que o governo federal deseja. Segundo ele, as poucas usinas que negociaram energia no certame tinham por trás um aumento da capacidade de moagem.

Hoje, explicou o executivo, para ser competitiva, a biomassa tem que passar por uma expansão na área plantada, associado ainda à modernização das cerca de 250 usinas existentes. Contudo, o preço teto divulgado para o certame de novembro não contempla esses investimentos. "O aporte necessário quando analisamos a relação reais por MW instalado exige um valor superior ao que foi apresentado no A-3 e no A-5", afirmou ele.

O executivo reafirmou que para a expansão do setor é necessário que exista uma política de longo prazo e que em termos de leilões de energia, haja a segregação das fontes. Souza diz que tanto a bioeletricidade, quanto as outras fontes, deveriam ser valoradas por suas externalidades. No caso da biomassa da cana de açúcar, ele cita a proximidade com centros de carga, a desvinculação a grandes projetos de transmissão, ajuda a poupar água e o fator de evitar emissões de gases de efeito estufa.